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Africanos escravizados chegaram no século XVI

Em seu livro ´O Negro na História de Santos` (2008), o jornalista e pesquisador santista J. Muniz Jr. escreve que anteriormente à chegada de Martim Afonso de Sousa (1532), ou seja, antes mesmo da fundação oficial da Vila de São Vicente, o Porto de São Vicente já era visitado por navegadores e aventureiros. Muniz Jr. sugere que, a partir de 1532, são desembarcados nessas paragens os primeiros escravizados negros: “Portanto, já nesta época, de acordo com as citações históricas, começam a chegar os primeiros africanos escravizados para serem utilizados nas lavouras de cana-de-açúcar e nos engenhos da Ilha de São Vicente. Tanto é que, o fidalgo Pero de Góes solicitou negros para o Engenho da Madre de Deus, o mesmo acontecendo com o nobre genovês José Adorno, que adotou escravos na sua sesmaria junto ao ribeiro de São Jerônimo no primitivo povoado de Enguaguassu.” Essa citação foi extraída da página 24 do livro de Muniz Jr. O ´primitivo povoado`, ao qual o autor se refere, irá se tornar, em 1546, a vila de Santos e, a partir de 1839, a cidade.

Já o historiador Clóvis Moura, em ´História do Negro no Brasil` (1992, p. 7 e 8), afirma:  “Esta história começa com a chegada das primeiras levas de escravos vindos da África. Isto se dá por volta de 1549, quando o primeiro contingente é desembarcado em São Vicente. D. João III concedeu autorização a fim de que cada colono importasse até 120 africanos para as suas propriedades. Muitos desses colonos, no entanto, protestaram contra o limite estabelecido pelo rei, pois desejavam importar um número bem superior. Por outro lado, alguns historiadores acham que bem antes dessa data já haviam entrado negros no Brasil. Afirmam mesmo que na nau Bretoa, para aqui enviada em 1511 por Fernando de Noronha, já se encontravam negros no seu bordo. Essa presença, como vemos, confunde-se com a formação da Colônia e, depois, do Império, chegando até os nossos dias.”

Independente da exatidão da data, Clóvis Moura aponta um fato mais importante para a compreensão do sistema escravista. Diz o historiador que os colonos chegados da Europa ou eram comerciantes ou tinham que obter ‘cartas de sesmaria’, ou seja, terras para o cultivo. Moura salienta que a posse de escravos era a condição para a obtenção dessas cartas e ressalta que, para a economia colonial baseada na produção para o mercado externo, o trabalho negro-escravo foi fundamental: “passa pela produção açucareira, pela mineração, produtos tropicais e termina na fase do café”, escreve. Tudo é feito pelo negro, que de nada se beneficiou. Aos senhores de escravos cabia todo o lucro da comercialização, que era crescente, como indica o historiador:

“Após 1530, quando se pode falar realmente em colonização, com engenhos montados em São Vicente, iremos encontrar um dinamismo crescente na produção colonial brasileira. No século XVI a nossa produção era superior à América espanhola. Os cronistas quinhentistas mais representativos, como Fernão Cardim, Gabriel Soares de Souza e o padre Anchieta, avaliam a cifra em 300.000 arrobas para a produção anual do açúcar brasileiro, o que daria uma renda per capita das mais altas do Brasil em todos os tempos. No outro século, essa produção se duplica.”

Texto: Marcos Augusto Ferreira – produzido a partir da pesquisa ´Memórias Apagadas da Terra da Liberdade`, desenvolvida como parte do Projeto Memórias, Narrativas e Tecnologias Negras.