Luiz Gama: menino escravizado, adulto libertador
Luiz Gonzaga Pinto da Gama nasceu livre, em 21 de junho de 1830, em Salvador. Filho de Luisa Mahin, africana livre e ativa nas lutas pelo fim da escravidão, tanto que teve de fugir e deixar o menino com o pai, cujo nome o próprio Luiz Gama recusou mencionar. Contou que o pai era rico, apaixonado por diversão e “esbanjou uma boa herança, obtida de uma tia em 1836”. Foi à falência e vendeu o filho, em 10 de novembro de 1840.
Luiz Gama tinha apenas 10 anos quando foi levado para o Rio de Janeiro e lá vendido ao “negociante e contrabandista alferes Antônio Pereira de Cardoso”. Luiz Gama narra seu destina na carta autobiográfica que escreveu, em 25 de julho de 1880, ao amigo Lúcio de Mendonça: “Como disse, tinha eu apenas 10 anos; e, a pé, fiz toda a viagem de Santos até Campinas. Fui escolhido por muitos compradores, nesta cidade, em Jundiaí e Campinas; e, por todos repelido, como se repelem coisas ruins, pelo simples fato de ser eu ´baiano`”.
Luiz Gama ficou na casa do alferes Cardoso, em São Paulo, onde aprendeu ofícios de copeiro e sapateiro, a lavar e engomar roupas e a costurar. Ali, fez amizades e aprendeu a ler, já com 18 anos. Fugiu e foi assentar praça. Serviu até 1854 (durante seis anos). Trabalhou como escrivão e amanuense da Secretaria de Polícia. Integrou do Partido Liberal. Tentou estudar na Faculdade de Direito da USP, em 1850, mas foi impedido por ser negro. Assistiu às aulas como ouvinte. Tornou-se pioneiro na publicação de artigos em defesa do fim da escravidão. Lutou para libertar escravizadas e escravizados, atuando como rábula, aquele que advoga, sem ser formado em Direito. Importante: Em 29 de junho de 2021, a USP atribuiu a Luiz Gama o título de Doutor Honoris Causa.
Luiz Gama foi fundamental para a luta abolicionista. Voltou a Santos, inclusive, para acompanhar a libertação de escravizadas e escravizados. Em função dessa atitude, em 16 de fevereiro de 1921 o bairro do Macuco ganhou uma rua denominada Luiz Gama. O próprio Gama, na carta a Lúcio de Mendonça, estima “em número superior a 500” os negros e negras que por ele foram arrancados “às garras do crime”. Sua missão libertadora teve início nos anos 1860, mais de duas décadas antes da Abolição, declarada seis anos após sua morte em 1882, aos 52 anos.